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Splinter Cell

Splinter Cell é a resposta da Ubisoft para o sucesso de Metal Gear Solid 2, lançado em 2001. Desde sua concepção, o jogo tinha por objetivo ser melhor do que o clássico de Hideo Kojima em todas as frentes possíveis, sendo apelidado de "MGS 2 killer".

Mostrado com pouca ou quase nenhuma pompa na E3 deste ano, Splinter Cell era tido nos bastidores da imprensa especializada como mais um jogo para preencher um nicho crescente do mercado, que são os jogos de ação furtivos, onde a frieza, estratégia e inteligência são muito mais importantes do que o apertar desenfreado de botões. A atenção do mundo só se voltou para ele quando a Microsoft anunciou um contrato de exclusividade temporário com a Ubisoft, transformando-o no "killer app" para o Xbox no lucrativo período das vendas de final de ano.

Muitos desconfiavam que apenas o marketing agressivo da Microsoft faria de Splinter Cell um dos melhores jogos do ano. O que descobrimos agora é que por trás disso tudo existe um jogo extremamente bem executado e inspirado, que supera as expectativas.

Tom Clancy, o contador de histórias

A história de Splinter Cell é oriunda da mente fértil de Tom Clancy, o escritor americano especialista em temas militares (ficções e não ficções), autor de livros que já inspiraram jogos, filmes e até mesmo alguns tipos de ações terroristas. Seus sucessos mais conhecidos aqui no Brasil são Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato e A Soma de Todos os Medos.

O jogo se passa em 2004, quando é reportado que dois agentes da CIA desapareceram na república da Geórgia, onde um presidente para lá de suspeito parece estar envolvido em um plano para acabar com o sossego dos EUA no cenário mundial. Para descobrir o que está acontecendo, é enviado um agente especial de uma iniciativa super secreta da NSA (National Security Agency), chamada Third Echelon, cuja existência é negada pelo governo dos Estados Unidos. Este agente é Sam Fisher, ou melhor, você.

A história de Splinter Cell é bacana e consistente, envolvendo espionagem, política, terrorismo e alta tecnologia, estando em consonância com o atual cenário geopolítico mundial.

Snake X Fisher

A primeira pergunta que todos devem estar fazendo ao ler esta análise é: Splinter Cell é melhor do que Metal Gear Solid 2? A resposta é sim e não, e vamos explicar os porquês. 

Para começar, existe uma grande diferença conceitual entre os jogos. Em Splinter Cell, você é um agente da NSA infiltrado em localidades reais, para fazer missões verossímeis, com equipamentos e tecnologia de última geração que, teoricamente, já estariam presentes em grupos de elite das forças militares ou agências de segurança dos EUA. Então, aqui o foco é a realidade, e o jogo cumpre muito bem o seu papel de te inserir neste ambiente. Embora a história seja fictícia, a tentativa de se manter um ambiente bastante realista está presente do início ao fim da jogatina. Não há sacações em Splinter Cell.

Em Metal Gear Solid 2, ao contrário, há uma mistura entre ficção e realidade. A história é o maior exemplo disso, misturando estratégias militares e armas existentes, localidades reais (como NY), inimigos russos e da Spetznaz com algumas figurinhas caricatas como o Vampiro e o Ninja, além de algumas geringonças e idéias saídas de filmes de ficção científica, caso do próprio Metal Gear, VR Training e os Patriots.

Outra diferença básica é que em MGS2 o foco está nos personagens e na história, enquanto em Splinter Cell a equipe da Ubisoft se preocupou 99% do tempo com a jogabilidade. Por essa razão, Metal Gear Solid é mais cinemático, dando mais emoção ao jogador pelas reviravoltas na história e personagens carismáticos (bem, todos menos um), sendo o verdadeiro filme interativo do qual todos sonhavam. As cenas não interativas impressionam pela riqueza de detalhes, dublagem de alto nível e pela direção firme e criativa de Hideo Kojima. Já em Splinter Cell o raciocínio, estratégia, inteligência e frieza são imprescindíveis, deixando o jogo com um clima de suspense de arrepiar os cabelos. Você realmente tem que pensar como se estivesse na pele de Sam Fisher, calculando todos os seus atos, explorando, se escondendo, aprendendo sobre o local em que está, e o comportamento dos inimigos. O senso de realismo, repito, é sensacional. A atenção aos detalhes é fenomenal.

Resumindo todos estes detalhes, podemos dizer que Metal Gear Solid 2 é mais filme, ao passo que Splinter Cell é mais jogo. Vale a pena ressaltar também que o jogo da Ubisoft é claramente inspirado nas idéias revolucionárias de MGS 1 e 2, levando-as ao próximo estágio de evolução. Kojima deveria aprender bastante com o que foi feito por este time da Ubisoft; os caras são muito bons mesmo.

Parte técnica é excelente

Splinter Cell dá um show na parte gráfica, rodando a 30 quadros por segundo e ostentando alguns dos mais impressionantes efeitos especiais já vistos em um jogo. O destaque fica para a luz, que nunca foi tão realista e impressionante. Quando incidida sobre uma fresta, deixa transparecer os raios luminosos translúcidos. O fogo é coisa de outro mundo e até a luz emanada de uma simples TV nos deixa de boca aberta. Outro ponto que merece ser citado são as cortinas, pôsteres, lonas e panos que se movimentam de uma maneira extremamente realista. Para entender o que estou falando, imagine a lona da primeira fase de Metal Gear Solid 2 com texturas mais realistas e efeitos de luz; aí você entenderá o nível de detalhes que existe neste jogo.

Nem parece que Splinter Cell utiliza um "engine" de Unreal para criar um ambiente tão realista e detalhado. O modelamento dos personagens e o "motion capture" é perfeito, os cenários são grandiosos e muito bem detalhados e a sensação de realidade faz de Splinter Cell o jogo mais bem feito da nova geração de consoles. 

O som também não decepciona. Há aquelas musiquinhas de suspense no fundo, a la "Metal Gear", que variam de acordo com o nível de detecção de Sam Fisher pelos inimigos. Os sons ambientes são excelentes, dá para se ouvir passarinhos cantando e a conversa longínqua de alguns inimigos. E dependendo da velocidade em que anda e da superfície em que você está, um barulho diferente é ouvido. Já os personagens estão muito bem dublados, mas é claro, não chegam ao nível de MGS 1 ou 2.

A única ressalva que temos em relação à parte técnica de Splinter Cell é que os interlúdios cinematográficos são meio toscos e artificiais, caracterizando o orçamento relativamente modesto do jogo. Outra coisa que não é um defeito, mas incomoda para nós brasileiros, é a falta de legendas durante as conversas. Às vezes, fica difícil pegar a história, mesmo tendo um inglês bem afiado. 

Jogabilidade é o ponto alto

A jogabilidade de Splinter Cell é extremamente variada, numa mistura que une o melhor de Metal Gear Solid com o melhor de Commandos. Ou seja, é baseada no aspecto furtivo e não no apertar desenfreado de botões. Há um medidor de furtividade no canto inferior da tela que mostra se o nosso agente está invisível aos olhos do inimigo ou não. Andar pelas sombras, devagar e sem fazer barulho é imprescindível neste jogo, se você não quiser chamar a atenção dos guardas. Você também pode escolher por atirar nas luzes ou câmeras para não ser detectado.

No início de cada missão você recebe as instruções do seu Coronel, que podem ser checadas apertando o botão "start". Para alcançar os objetivos descritos (como gravar a conversa no elevador de dois russos ou seqüestrar um traidor em pleno quartel-general da CIA), você poderá utilizar de várias estratégias na maioria das missões. Você escolhe entre andar silenciosamente pelas sombras para não ser detectado, sair atirando a esmo em todo mundo, jogar objetos para chamar a atenção dos inimigos e sair correndo, agarrar os soldados por trás e eliminá-los um a um, se dependurar em canos no teto, esconder atrás de móveis ou cortinas e por aí vai. O grau de liberdade que você tem é enorme, e o jogo pode ser completado de diversas formas diferentes. Cada jogador utiliza a estratégia que for mais palatável naquele momento.

Sam Fisher tem uma infinidade de movimentos que são executados com maestria através do controle do Xbox, utilizando com sabedoria os direcionais e botões analógicos. Ele é capaz de andar bem devagarzinho, correr, escalar paredes, subir grades, dependurar-se em canos ou vigas, ficar grudado na parede, deslizar por cabos, descer de paredes em cordas de rapel, rolar, agarrar os inimigos por trás, interrogá-los, nocauteá-los com a arma ou o braço e fazer um espetacular salto duplo, que deixa o herói se apoiando apenas com as pernas entre duas paredes próximas (haja colhões para isso). Ainda é possível interagir com objetos como latas ou garrafas, lançando-os no cenário, apagar as luzes, acessar computadores, desarmar bombas, etc. 

Como era de se esperar de um agente de elite da NSA, você tem à sua disposição uma infinidade de "gadgets" tecnológicos que são um show à parte. Eles variam de missão para missão. Além da tradicional pistola com silenciador e dos óculos especiais com visor infravermelho (para enxergar a noite) e térmico (para detectar fontes de calor, como no filme o Predador), estão disponíveis uma fibra ótica (a qual você pode enfiar debaixo das portas e ver o que existe do outro lado), um engenhoso "lockpick" para destravar portas fechadas (com direito a muita interatividade com o controle do Xbox), um microfone direcional a laser, granadas, minas de parede, um rifle que atira dardos de choque (que desmaiam o inimigo sem matá-lo), bolotas atordoadoras, micro-câmeras com adesivos (que podem ser atiradas em qualquer lugar e controladas por controle remoto) e até mesmo balas de verdade (o destaque aqui vai para o modo sniper, no qual um botão controla a respiração de Fisher), micro-câmeras que emitem ruídos e por aí vai.

It's Thinking

O mais impressionante aspecto de Splinter Cell é sua inteligência artificial, que é provavelmente a melhor já vista em um jogo do gênero. O comportamento dos guardas é extremamente realista. Por exemplo, se eles vêem um vulto, vão investigar, chamam seus companheiros pelo rádio, abrem portas, acendem luzes, falam algumas frases de efeito como "Who's there" ou "I saw something" e se não acham nada, voltam às suas posições.

Caso você seja visto, o jogo fica ainda mais impressionante. Todos os guardas são chamados, mesmo aqueles que estão em posições longínquas no cenário; e o alarme é soado. Se você matar os guardas, por exemplo, eles não estarão mais lá, e o caminho estará livre (ao contrário de MGS, em que aparecem guardas do nada, toda hora que um alarme é acionado). Só se deve tomar cuidado para esconder os corpos, pois outro turno de guardas podem achá-los e acionar o alarme. 

Em Splinter Cell não há um radar como em Metal Gear Solid (o jogo é realista), e o campo de visão e audição dos guardas é calculado de acordo com o medidor de furtividade e os seus próprios sentidos. Quando você sentir que alguém está te ouvindo, pode ter certeza que estará mesmo. Ande mais devagar, passe mais longe do movimento e evite tiros perto de outrém. Em tiroteios fique atento, pois os inimigos se escondem atrás de caixas ou portas, e possuem uma mira bem certeira.

Realmente é tudo muito impressionante, há diversas variações para a inteligência artificial dos inimigos, que parecem estar mesmo pensando.  

Nem tudo é perfeito

O maior defeito de Splinter seu é sua dificuldade extrema e a impossibilidade de salvar o jogo a qualquer momento. Para passar em diversas missões, prepare-se para morrer diversas vezes e ter que começar tudo de novo.

Na verdade, este não é bem um defeito tão grave, pois o jogo é tão realista que depende apenas de você passar das fases, com esmero, frieza, inteligência e cercado de todos os cuidados possíveis. Não existe nada impossível aqui. A frustração é transformada em desafio.

Só não estranhe se alguns raros bugs acontecerem no meio da jogatina e você não conseguir progredir no jogo em algumas fases. Aí, a melhor solução também é "começar do começo" novamente.

Entretanto, o lado negativo de Splinter Cell é tão pequeno que não arranha o conjunto da obra de um jogo que vai se tornar referência para o gênero de ação furtiva daqui para frente.

O Veredicto: Splinter Cell é um jogo extremamente bem executado, desafiador, criativo, cheio de suspense, divertido e com um senso de realidade nunca visto em um videogame. A Ubisoft está de parabéns por ter criado esta pérola, que honra todos os possuidores de um Xbox.

Outer Space
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